terça-feira, 31 de março de 2009


SOFIA PRESTES
STILL LIFE
pintura

4 ABRIL 3 MAIO 2009
www.sofiaprestes.com

Galeria Municipal de Sintra
Praça da República, 23
(Edifício do Turismo)
2710-616 Sintra

Horário
Terça a Sexta das 9h00 à 12h00 e das 14h00 às 18h00.
Sábado, Domingo e Feriados das 14h30m às 19h00.
Encerra à segunda feira.


A minha amiga Sofia é alguém que faz parte de mim. Existem amigos assim, que se entranham por nós dentro; une-nos um amor que está muito para além da posse, do fulgor, do encantamento. Algo nos acompanha como um espírito solidário, um abraçar de almas de grandes asas. Sofia traz-nos o espanto e aquela imensa inocência perante a vida e o ser vivo. As emoções estão no sangue e na terra, na água e nos céus, nas árvores e nas casas. Ela quer viver como um ser vivo por mais insignificante que seja. O importante é o que a vida gera e regenera. Na pintura ela está só, mas transparente, não precisa de outra realidade para se esconder, para viver uma vida melhor. A transcendência está no ser, nas suas mais simples manifestações: no respirar, no lavar, no cavar, no amar, no passear, no pintar…Naturalista dirão uns, da sua pintura, existencialista direi eu, sem qualquer eu dentro dela, que a impeça de ser o que é, na sua naturalidade. O espírito do Zen a acompanha, e traz-nos esta brisa, o marulhar do mar, o canto dos pássaros, o murmurar das árvores, o ladrar dos cães…tudo é vida. O silêncio da pintura obriga todos os sentidos a reconstruírem a realidade. Quando o olhar se fixa, algo em nós desperta os cheiros, os sons, o tacto, o paladar e o olhar, que faz parte das nossas vivências, dos nossos sentires. Por isso, Sofia não é só uma pintora, é alguém que dá vida à pintura.



Texto que acompanha a exposição
Já vai longe o século XIII, em que o povo florentino conduzia triunfalmente pela cidade a Virgem de Cimabue. As crenças da altura exigiam a necessidade de uma tal celebração. Essas crenças – e outras posteriores – tendo desaparecido, põe-se um problema premente: qual pode ser hoje, o significado de uma obra de arte? Na maior parte dos casos estamos na situação de Alice que em Through the Looking Glass, lendo um poema, diz que este ‘enche a cabeça de ideias mas ( ela ) não sabe bem quais’. Há, no entanto, excepções e o trabalho de Sofia Prestes é uma delas. Nas suas pinturas adivinhamos uma necessidade vital, como se perante o fracasso das ideias e dos grandes desígnios só nos restasse escapar à linguagem. A clareza e o sentido, aqui, provem não da racionalidade mas de um fulgor intuitivo. Atenta a pequenas cenas do quotidiano ela descobre, de modo acidental, coincidências ou sincronias que unem o seu mundo interior à realidade física exterior: as fronteiras desaparecem e o seu trabalho atinge o mistério da unidade primitiva. Estas epifanias – ou espasmos e espantos cognitivos – são os prazeres dionisíacos de que Nietzsche tanto falou: dão-nos a ver a embriaguez de quem toca as coisas-em-si. A pintora desaparece, só fica o rasto da sua vivência. Então já não há diferença entre arte e vida. E nós já não somos Alices com a cabeça cheia de ideias ‘sem sabermos bem quais’. Vendo, ouvindo Sofia Prestes falar-nos de deleites e sincronias podemos, como os antigos florentinos, celebrar uma certeza redentora: para além das aparências pós-modernas – as realidades virtuais e seus fogos de artifício –, o mundo existe.

Arbogast PUCCI
Lugano – Suíça Março 2009
(traduzido do italiano por J. P. De Roo)

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