sexta-feira, 30 de julho de 2010

Uma amiga enviou-me um poema por sms.
Completo em comovida alegria. Obrigado
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(fundi-me) belo mundo, na tua plenitude;
E precipitei-me, unido com todos os seres,
Alegremente desde a solidão do tempo,
Como um peregrino no palácio paterno,
Nos braços do infinito.
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Hoderlin

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Adamastor, 5 de Abril de 2009
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Os amantes não podem dizer nenhuma novidade um ao outro; para eles, também não há
(re)conhecimento, pois aquele que ama não conhece daquele que é amado nada mais do
que o facto que ele está sendo, de uma maneira indescritível e através de uma actividade
interior, recolocado pelo outro. [...] Por isso, não existe a verdade para os amantes; ela
seria uma rua sem saída, um fim, a morte do pensamento.
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Robert Musil

quarta-feira, 28 de julho de 2010


Rua carne Azeda, 2009

De minha casa tenho este pequeno mundo que me permite viajar. O olhar é solitário em todos nós.
Estamos sempre separados daquilo que queremos olhar. Como chegar mais perto? O que será que olhamos? Perguntas para fundir o olhar ao corpo que sente e pensa.

terça-feira, 27 de julho de 2010

...
Disco maravilhoso. Em M'Bifé (je t'aime)Blues, ela diz: "Je t'aime jusqu'a l'amour".
Eu amo-te até ao amor. "Até ao amor", parece que não existe mais nada para amar para além do amor. Aprendi com a Teresa a amar para além de mim, daquilo que eu achava que seria amar, ou o que amamos numa pessoa para além das proximidades culturais, intelectuais, estéticas. E temos tendência em valorizar o amor através de coincidências metafísicas, físicas e poéticas. O amor exprime-se de maneira invisível, através de um processo químico impossível de controlar ou descrever, e revela-se, para nossa surpresa, quando não pensamos, nem sentimos o amor, como sendo algo do nosso eu consciente. O amor é simplesmente amor, nada mais que amor.

domingo, 25 de julho de 2010

Museu das Cruzes, Funchal, 29.8.2010

O amor é algo que ilumina o que não podemos guardar, mas somente, admirar por instantes...

sábado, 24 de julho de 2010

Adamastor, 20.1.2010

Amamos, sempre amarrados à ideia que temos do que será amar.
Porto, 21.2.2010
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Somos luz e sombra.

O amor é luz que permanece acesa;

as sombras tentam chegar-lhe,

por momentos indeterminados...

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Jardim da Estrela, 12.01.2009

O sagrado é mais belo e intenso que a fantasia e o desejo.



quinta-feira, 22 de julho de 2010

Queria que fosses só minha,
Queria ser só teu.
Mas para seres só minha,
Terias de deixar de seres só tu,
E transformares-te num molusco,
Que só se abre, na água quente
Da minha vontade.
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Queria que sentisses o meu amor,
Mas não sei o que é a paixão
De me sentir a amar e ser amado com tal fulgor
E eis-me desiludido comigo,
Por aquilo que mostro,
ser tão distante daquilo que sou
e sinto.
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15-6-2009
A proximidade vê claro, vê todas as nuances e metamorfoses.
Ver claro é sentir claro, sem nenhuma nuvem de dúvida.
E como beber a chuva do desejo sem nuvens cheias de sonhos,
sonhos que nos fazem seres etéreos e impenetráveis?
Quando amamos não temos dúvidas sobre o que sentimos,
temos sim, dúvidas sobre o que realmente somos perante esse amor.
Porque o amor exige essa transcendência, exige um ouvido gigante,
que sente cada ínfimo som como uma conquista preciosa do outro
bem dentro de nós. Nesse processo de escuta e do sentir o outro,
algo em nós terá de nascer de completamente novo.
O desejo não pode ser mais o desejo que até aí conhecíamos como tal.
Esse desejo terá de ser completamente singular e sagrado,
algo só revelado tão só ao nosso amor como único.
Como sentir o desejo pelo outro como algo exclusivo e inalienável,
Algo que não podemos dar, nem sentir, a mais ninguém?
O desejo vive da subtileza e do encantamento.
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Proximidade é sentir o outro sem a ansiedade de o querer sentir próximo.
Porque a ansiedade é gerada pela dúvida de não nos sabermos amados na totalidade,
e de o querermos ser a cada momento.
O que somos quando amamos será o mesmo de quando somos amados?
Gostava de saber mais coisas sobre o amor,
e de estar num estado mais selvagem,
em que o meu corpo respondesse de maneira mais feroz.
mas fiz de mim um mapa demasiado triste e indecifrável,
talvez para os outros pensarem que sou algum tesouro valioso.
Só sei que te amo tanto, por conseguir ver o amor para além,
daquilo que é, e do que o sinto.
Tamanho amor, quero que caiba dentro do meu coração!

18.6.2009

terça-feira, 20 de julho de 2010

Caligrafia

Aos hábitos me ligo. Os hábitos não têm porventura outra virtude senão essas:
A de convergir para a existência do nada.
Se, por exemplo, escrevo como quem desenha caracteres chineses para mim obscuros,
Se me detenho (agora) no uso ou não uso, vulgar, duma letra, se a circunscrevo, então, meditativamente, dubitativamente e com cautela, - é porque tudo para mim me habitua a duvidar de mim. Menos os hábitos.
Porque neles é que eu me reconheço. Não me conheço em mim.
E dão-me – por momentos e reconfortantemente – a sensação de que escrevo por linhas eternamente finas, delicadas, precisas, toda a incerteza de que constituo…
Toda a miséria dos meus olhos fechados.
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Por isso aos hábitos recorro. Até ao hábito de gostar de ti.
Sem outra companhia que não seja
O não saber viver doutra maneira.

Lisboa, 21 de Outubro de 1970

Raul de Carvalho, Um e o mesmo livro, Editorial Presença, 1984

domingo, 18 de julho de 2010

O amar é um instinto que temos para fugir à realidade. Amar é corromper a realidade, torná-la sonho e deslumbrante. Amar é esquecer que se ama. É vaguear como um fantasma no coração de alguém que julgamos amar. É não ter medo de morrer, cada vez que o nosso amor deseja algo que não nós. Amar é adiar a morte do amor. Amor cristal. Amar até ao tutano, enterrar os ossos, comer o coração, morrer no orgasmo infinito. Amar é não sentir, é mergulhar num precipício sem fim, para que não saibamos que se trata de um precipício. Amar é criar o nosso próprio inimigo: aquele que não ama o suficiente. Amar é nunca ser triste, nem ansioso, nem ciumento, nem indelicado, nem esquecido. Amar tem que fazer esquecer todos os momentos que não amámos ou vamos não amar. Amar é antecipar a felicidade, e matá-la com promessas. A felicidade é masoquista: gosta do que, ainda, não tem. Amar é esquecer todos os momentos que amámos, para podermos amar outra vez, algo sempre novo. Amar é beijar a alma de alguém, com os lábios de um animal selvagem. Amar é gritar por mais. É reinvindicar sem fim. É clamar à unicidade. Amar é frustar o amor. É determinar o resultado de uma equação impossível. Amar é adiar a resolução. É preparar a revolução. E derramar a maior quantidade de sangue possível. É esvair-se em sangue. É bater com a cabeça na parede. Ser uma parede com cabeça e sentimentos. Um imenso edifício, em constante movimento, à procura das fundações. Amar é atropelar quem aparece à nossa frente, de braços abertos. É ligar os faróis, à procura de um membro solto, de uma ideia solta. Amar é soltar-se. Desprender-se. Desmembrar-se. Fugir. Gritar. Ser alvejado pela bala mais bela e veloz. É fechar os olhos ao mundo das coisas que existem sem amor. É ver profundidade naquilo que não existe de olhos abertos. É penetrar o sexo tão fundo, ao ritmo frenético das sílabas de uma oração. Amar é rezar. de joelhos. de pernas abertas. de peito aberto. Amar é ter fé. no esperma. na vida. na reprodução de mais amor. Amar é espernear perante a ameaça divina. Amar é pregar pelo amor infinito. Casar com Deus nas masmorras, não no céu celestial. O amor é dominante. Somos sempre vítimas indefesas. O desejo é algoz. Amar é sofrer por prazer. Morrer de morte natural, em cada dia. Amar é gastar o amor, e torná-lo grande no caixote do lixo. Amar é esquecer que se ama. Amar é esquecer que se amou. O amor não existe. O amor é completamente destituído de sentido, senão porque nos apaixonaríamos por outro, estando connosco o nosso amor. O amor é vaidade. Amar é acreditar que se ama. Talvez, ter de amar sem saber e sem pensar. O amor caga-se. Por necessidade. Por medo também.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Como sabem, eu não acredito no método de se falar com crianças como se fossem bébés, vocês são capazes de compreender mais do que aquilo que de um modo geral os adultos supõem.

Educação significa guiar para fora, de e, para fora, e duco, eu guio.

(significa fazer sair o que se tem dentro, e não, fazer entrar o que quer que seja, no intuito de tornar as pessoas mais sábias)

Primeiro , a segurança. Mas a segurança não vem em primeiro lugar. A bondade, a Verdade e a beleza vêm primeiro.

O Apogeu de Miss Jean Brodie, Muriel Spark, Ahab, 2010

terça-feira, 13 de julho de 2010



Não sei como posso explicar porque considero estes dois discos mágicos. O primeiro, sobretudo, entranhou-se de tal maneira, que me acompanha ainda hoje. Comecei por ouvi-lo num programa de rádio noturno: essa música Stolen Property, de uma força tribal e encantatória, e Wide Open Road, com a bateria a gritar por socorro, jogando aqui um contraponto entre o Wide Open, a grande e imensa extensão da solidão, e a tentativa, os drums, de reagir, e de ultrapassar essa condicionante existencial. É uma música de grande intensidade, como Stolen Property, onde somos levados ao mais sagrado desespero, e à mais imponente celebração de um ritual primitivo, de sacrifício, de perda. Os Triffids, australianos, como Nick Cave e os Insx, foram injustamente esquecidos. Mas são grandes, como são grandes! Ocuparam um lugar muito importante no ano mágico de 1986.
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Wide Open Road :
Well the drums rolled off in my foreheadand
the guns went off in my chest
Remember carrying the baby for you
Crying in the wilderness
I lost track of my friends,
I lost my kin
I cut them off as limbs
I drove out over the flatlandshunting down you and him
The sky was big and empty
My chest filled to explode
I yelled my insides out at the sun
At the wide open road
it's a wide open road, it's a wide open road
How do you think it feelssleeping by yourself?
when the one you love, the one you love
is with someone else
Then it's a wide open road
It's a wide open road
And now you can go any place
that you ever wanted to go
I wake up in the morningthinking
I'm still by your side
I reach out just to touch you then I realise
It's a wide open roadIt's a wide open road.
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Stolen Property :
There's someone standing in the rain like they have no place to go
Maybe that someone is you, maybe someone you don't aim to know
Maybe lost possessions
Maybe stolen property
You just lie around waiting on a signal from heaven
Never had to heal any deep incision
Darling you are not moving any mountains
You are not seeing any visions
You are not freeing any people from prison
Just an aphorism for every occasion
As if the only thing that ever matters
is your place at the table
You never read the writing on the labelwhen you drank from the bottle
it said Keep Away From Children
This is stolen property, this is stolen property
Let her run away
Let her run, let her run away
She can't hurt you now, can't hurt you now
She don't belong any more, learn the hard way
She don't belong here anymore
Finders keepers, losers weepers
Finders keepers, losers weepers
This is stolen property, this is stolen property
Reach out in the darkness now she's not there
Reach out it's getting darker now she's not there
Reach out it's getting darker now
She don't belong anymore, learn this the hard way
She don't belong here any more
You stumble, sometimes fall
Pick yourself up!
Hold yourself up to the light!
Duck your head !
Watch for the blade!
Can't hurt you now, can't hurt you now
This is stolen property

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Vários acontecimentos, todos eles dos mais comuns a todos os mortais, me têm afastado daqui.
Comentários meus sobre arquitectura e arquitectos atingiram colegas próximos, e realmente não é justo trazer para aqui a soberba, ou qualquer pose arrogante perante os outros. Claro que tenho as minhas ideias, e elas são também ideias de outros que me inspiram ou catalizam. O que me interessa aqui é deixar esse testemunho. Às vezes deixo aqui algo que me expõe de certa maneira. Mas a vida é esse instante que não espera pelo instante seguinte. Esvai-se e transcende aquilo que somos, a cada momento.