domingo, 18 de julho de 2010

O amar é um instinto que temos para fugir à realidade. Amar é corromper a realidade, torná-la sonho e deslumbrante. Amar é esquecer que se ama. É vaguear como um fantasma no coração de alguém que julgamos amar. É não ter medo de morrer, cada vez que o nosso amor deseja algo que não nós. Amar é adiar a morte do amor. Amor cristal. Amar até ao tutano, enterrar os ossos, comer o coração, morrer no orgasmo infinito. Amar é não sentir, é mergulhar num precipício sem fim, para que não saibamos que se trata de um precipício. Amar é criar o nosso próprio inimigo: aquele que não ama o suficiente. Amar é nunca ser triste, nem ansioso, nem ciumento, nem indelicado, nem esquecido. Amar tem que fazer esquecer todos os momentos que não amámos ou vamos não amar. Amar é antecipar a felicidade, e matá-la com promessas. A felicidade é masoquista: gosta do que, ainda, não tem. Amar é esquecer todos os momentos que amámos, para podermos amar outra vez, algo sempre novo. Amar é beijar a alma de alguém, com os lábios de um animal selvagem. Amar é gritar por mais. É reinvindicar sem fim. É clamar à unicidade. Amar é frustar o amor. É determinar o resultado de uma equação impossível. Amar é adiar a resolução. É preparar a revolução. E derramar a maior quantidade de sangue possível. É esvair-se em sangue. É bater com a cabeça na parede. Ser uma parede com cabeça e sentimentos. Um imenso edifício, em constante movimento, à procura das fundações. Amar é atropelar quem aparece à nossa frente, de braços abertos. É ligar os faróis, à procura de um membro solto, de uma ideia solta. Amar é soltar-se. Desprender-se. Desmembrar-se. Fugir. Gritar. Ser alvejado pela bala mais bela e veloz. É fechar os olhos ao mundo das coisas que existem sem amor. É ver profundidade naquilo que não existe de olhos abertos. É penetrar o sexo tão fundo, ao ritmo frenético das sílabas de uma oração. Amar é rezar. de joelhos. de pernas abertas. de peito aberto. Amar é ter fé. no esperma. na vida. na reprodução de mais amor. Amar é espernear perante a ameaça divina. Amar é pregar pelo amor infinito. Casar com Deus nas masmorras, não no céu celestial. O amor é dominante. Somos sempre vítimas indefesas. O desejo é algoz. Amar é sofrer por prazer. Morrer de morte natural, em cada dia. Amar é gastar o amor, e torná-lo grande no caixote do lixo. Amar é esquecer que se ama. Amar é esquecer que se amou. O amor não existe. O amor é completamente destituído de sentido, senão porque nos apaixonaríamos por outro, estando connosco o nosso amor. O amor é vaidade. Amar é acreditar que se ama. Talvez, ter de amar sem saber e sem pensar. O amor caga-se. Por necessidade. Por medo também.

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