quinta-feira, 29 de abril de 2010

Todos os projectos de como as pessoas deveriam ser são ao mesmo tempo negações da realidade e tentativas de recriá-la. Uma das características peculiares do querer humano é envolver sempre o estar-se convencido do que se deveria querer. Essa convicção, que toma muitas formas - da lavagem cerebral à educação, da sedução à conversação -, é uma maneira de descrever a experiência de crescer em qualquer sociedade.
O querer, sem o qual a sobrevivência humana é impossível é simbolicamente organizado; ou seja, o querer é inextricável do que as nossas sociedades nos dizem que deveríamos querer.O século XX foi um grande cemitério de projectos idealistas, utópicos, para aquilo a que no século XVIII se chamou a “perfectividade do homem”. Vivemos hoje no meio das horrendas consequências das “vidas boas” planeadas politicamente; dos projectos mais agressivos e coercivos do que as pessoas deveriam ser e deveriam querer fazer com as suas vidas. E não foi por acaso que as linguagens da chamada saúde mental - de quem é são e quem é louco - foram tão facilmente cooptáveis, tanto por fascistas quanto por comunistas. Como maneiras de organizar simbolicamente aqueles a quem deveríamos dar ouvidos e porquê, aqueles a que deveriam falar e os que deveriam ser silenciados e excluídos, a saúde mental torna-se moralidade política através de outros meios.

em Adam Philips, Louco para não dar em louco, Cotovia, 2009

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A verdadeira natureza do homem está na abundância. A ambiguidade humana tem em conta que nós somos criaturas do luxo, eternamente apaparicados pelas nossas mães – pois sim! é sempre o defeito das mães. Procurar a primeira mulher! Isso será sempre a divisa de toda a antropologia meticulosa! Seriamente, a palavra “apaparicar” significa que é preciso procurar a origem do luxo que nos impede, como seres humanos, de nos tornarmos adultos.
Podemos dizer que a verdade escondida da política, não é a luta de classes, mas a luta dos adultos contra o infantilismo.

Peter Sloterdijk, em Les Batements du monde( em conversa com Alain Finkielkraut), Pauvert, 2003

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Quer os corações tenham sido ou não feitos para sofrer, para a pessoa sã os eus foram feitos para se perderem, e isto significa simplesmente perceber que aquilo a que tendemos chamar os nossos eus ou os nossos caracteres são tanto ameaçados quanto fortalecidos pela excitação.

em Adam Philips, Louco para não dar em louco, Cotovia, 2009

sábado, 17 de abril de 2010

Gostava de me irritar menos com as injustiças, com a incompetência, com a pobreza de espírito, e com outras tantas coisas. De me irritar menos por ficar irritado, de querer mudar certas maneiras de ser e fazer dos outros. Se os outros são assim e assado, deixá-los. Primeiro tenho que encontrar a clarividência e a serenidade. Mas isso também implica abrir o coração. Não podemos ser orgulhosos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Quando os títulos dos jornais focam as respostas do Vaticano aos escândalos de pedofilia, eis que o jornal "O Jogo", em cima do acontecimento, escreve na primeira página:

Jesus: o mestre do "bluff"
Desde que chegou à Luz,
já recorreu em sete ocasiões a este trunfo.


título do Jornal "O Jogo". de 16 de Abril de 2010.

Estes títulos de jornais fazem-me lembrar o atelier do ArqºVitor Figueiredo. Ele delirava comprar "a Bola" e o "Record" e recortar títulos incríveis e absurdos. Adorava aqueles jogos da linguagem. E fixava-os num painel para que todos vissem. Eram pensamentos e associações que todos éramos obrigados a fazer. A arquitectura vive de relações várias com a literatura, a pintura, a música, a escultura, etc, isso não só directamente, mas também devido à influência que essas relações têm em cada pessoa. Quem concebeu os animais, as plantas, as flores, foram arquitectos. Quem faz do espaço um lugar de devaneio e extensão do pensamento, são arquitectos. Com o Arqº Vitor aprendi a olhar mais longe, a tentar compreender o que será uma ideia arquitectónica. Desenhando-a e habitando-a como um romance ou uma grande pintura.

quarta-feira, 14 de abril de 2010


Foi na jazz e arredores que descobri este disco. É um excelente blogue de divulgação de Jazz, mais na área da improvização e do Free. Foi aqui também que comecei a ouvir coisas para mim estranhas ao ouvido. Mas o ouvido, mesmo pela sua forma, é um orgão para esculpir através de sons. O aparentemente duro produz peças de grande intensidade escultórica e emocional. Eu gosto de partir à descoberta e de alargar os meus horizontes. Em tempos participei num forum de jazz aqui na madeira, e tentei remar um pouco contra a maré de bater palmas sempre aos mesmos, e o resultado foi que fui expulso pelo guru do jazz daqui. Eu não percebia nada de jazz. O que até é verdade. Mas o que é isso de perceber? Por exemplo, o disco que refiro aqui, é completamente desafinado, desenquadrado no fraseado, e no entanto, cativa-me esse lado marginal. Será um grande disco? Não sei. Acrescenta é algo à minha escultura otorrinológica, e porque não, também à minha saúde mental, irriga-me o cérebro. Esse forum serviu para conhecer um dos meus melhores amigos e quem me abriu as portas para novas audições no jazz: José Medeiros. O José tem um especial tacto para descobrir a qualidade, o que é excitante em música, a magia. Fico contente de eu também o ter feito descobrir a música contemporânea e depois a clássica, e mais surpreendente é que ele consegue distinguir o importante do acessório. Chamo a isto perceber de música, não quer dizer saber enciclopédicamente música. É o que me interessa, e por isso gosto de tropeçar nestes artistas marginais, que nem sequer existem com qualquer estatuto. São o gesto do escultor, na orelha. Apalpam o silêncio e dão-lhe vida.

...Giuseppi Logan, saxofonista alto “desaparecido” há décadas sem deixar rasto, está prestes a regressar ao lado de cá pela mão da editora norte-americana Tompkins Square Records, confirmando as aparições de há um ano no Bowery Poetry Club, em Nova Iorque, face às dúvidas quanto à identidade do saxofonista que por vezes aparecia na esquina da 31st Street com a Eight Avenue. Foi em meados da década de 60 que o Giuseppi Logan Quartet (Giuseppi Logan, Eddie Gomez, Don Pullen e Milford Graves) gravou dois álbuns importantes para a ESP-Disk. De então para cá, quatro décadas passadas, que seria feito do homem? Para o quinteto que agrupou em Setembro último, Logan chamou músicos de duas gerações diferentes: os contemporâneos dos quartetos originais, pianista Dave Burrell e baterista Warren Smith, o contrabaixista francês Francois Grillot, que se junta ao trompetista e clarinetista Matt Lavelle.(tirado do blogue acima citado).

terça-feira, 13 de abril de 2010





Acabadinho de chegar o novo Autechre, Oversteps, é música da melhor electrónica que se faz por aí. Não fosse a editora Warp ter outros guias espirituais da nova electrónica: Boards of Canada, Aphex Twin. Pelo menos um dos discos do ano. Quem não conhece, mergulhe nesta orquestra de sons.

segunda-feira, 12 de abril de 2010


Quinta Palmeira, Funchal Abril 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010


Corujeira, Março 2010


Corujeira, Março 2010
No meio de tanta miséria, eis que o olhar nos permite o usufruto do ouro estético.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Vista das Babosas para encosta do Jardim Botânico, Março 2010

A mão do homem que se quer gigante.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

No Jardim da sanidade suave
Possas ser bombardeado por côcos de vigilância

Chogyam Trungpa Rinpoche