sábado, 14 de março de 2009

Ando a ler um livro fascinante e não muito comum, de que vos vou trazer extractos. Trata-se de “Pôr o Corpo a Pensar” de Maria João Ceitil edição ISPA, 2003. este da pág 210:

"Porque há qualquer coisa de excessivo em o pensamento se lançar no domínio de um corpo à procura de outro corpo. Porque há qualquer coisa de excessivo em o pensamento acolher a linguagem do contacto. Isso é algo que é difícil de pensar porque só é pensável se o próprio pensamento ficar encantado, enfeitiçado. E a partir do momento em que o pensamento fica encantado, enfeitiçado, muda-se de registo, e já é algo, já há algo que se pensa nesse pensamento. E o desejo está “no coração do pensamento”? É o desejo que dá vida ao pensamento? Há algo que se pensa no pensamento: há algo, independente de nós, que se pensa em nós. Mas se o pensamento fica encantado, enfeitiçado, se pensa segundo a lógica”louca” do contacto, do amor, já não é um pensamento filosófico. Será mesmo assim? O que é a filosofia? O que é que a Filosofia tem a ver com o som dos batuques? O que é que a Filosofia tem a ver com o cheiro do amor e o som dos batuques? O que é que a filosofia tem a ver com o cheiro do leite e do seio e o som do coração? O que é que a Filosofia tem a ver com as emoções mais primárias, mais primitivas que sentimos? Há palavras, conceitos filosóficos, para falar das emoções mais primárias, mais primitivas? O desejo, na sua forma nais primária, mais primitiva, não morre? Pensar o desejo, o corpo, o afecto, o contacto, é um modo privilegiado de pensar o que é a própria Filosofia. Segundo Georges Battaille em “L’Histoire de l’Érotisme”:

“A reflexão humana não pode ser indiferentemente separada de um objecto que lhe diz respeito em primeiro lugar, nós temos necessidade de um pensamento que não se perturbe perante o horror, por último de uma consciência de si que não se furta no momento de explorar a possibilidade até ao fim”

1 comentário:

  1. "Pôr o corpo a pensar" ou Pensar o corpo.

    Lanço um reflexo, à tona n'"O mar de Ulrich":

    A veemência da carne em Miguel Ângelo, Francis Bacon e, porque não?, porque sim!, na escultura dos Clássicos.


    "Se o prazer não é um eufemismo, será mais
    do que coisa entre o pecado e a alegria?"

    O incontornável DF


    " Votre corps n'est qu'à vous seul; vous êtes la seule personne au
    monde qui ait le droit d'en tirer du plaisir et de permettre à autrui
    d'y prendre plaisir..."

    SADE, La Philosophie dans le Boudoir

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