sexta-feira, 13 de março de 2009


Neste mundo, estamos todos vampirizados, fugimos todos à luz, queremos alimentar-nos dos outros procurando a imortalidade. Daí o fascínio da noite. Transformamos o amor nesse ritual secreto e íntimo, nesse devorar em silêncio e em golfadas, do sangue do outro. Não gostamos de o levar para a luz, na luz somos confrontados com a dor da perda, do nosso eu. A luz dilacera-nos no nosso âmago, mas ficamos fascinados pelo jogo de espelhos, de fusão, de narciso. Somos ao mesmo tempo sombras e reflexos, por isso procuramos abraços e corações, para podermos nos olhar e sentir. Existimos assim intermitentes entre o desejo de imortalidade e o de sermos humanos e amados. Para o vampiro o seu espelho é a sua sombra, e o mundo apresenta-se disforme, mas latejante e sedutor. O homem encontrou na arte e na beleza o sangue que ilumina a sua alma, e no amor, algo tão infinito e poderoso, que o sentimos como uma luz intensa, impossível de guardar numa caixa como uma coisa só sua. A vida é isto: respira-se e acontece.

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