segunda-feira, 18 de maio de 2009

"But how can you live for just what you want?"
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"We are the choices that we have made, Robert."
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Um mandarim estava apaixonado por uma cortesã. “ Serei vossa, diz ela, quando tiverdes passado 100 noites à minha espera, sentado num tamborete, no meu jardim, debaixo da minha janela.” Mas, à nonagésima nona noite, o mandarim levantou-se, pôs o tamborete debaixo do braço e foi-se embora. Esta história do livro de Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso, Edições 70, incluída no capítulo da Espera, ficou-me na memória. Mais do que uma espera, o que é exigido é uma prova de amor. Mas seria necessária essa prova de amor? Se existe a dúvida da parte da cortesã, então ao mandarim não lhe resta outra alternativa que não a satisfazer, mas agora mais do que defender a sua honra, os seus sentimentos verdadeiros, ele tem que desfazer todas as dúvidas. Ou seja, a prova, para ele absurda, de amor, terá de ser a última. Até quando teria ele de se submeter a provas de amor? Ou seja, se é exigido, no amor, algo que deveria transparecer e ser claro para o outro sem a menor dúvida, uma demonstração racional, científica, exacta do amor que se sente, então, quem exige não ama verdadeiramente. O amor vive da recíprocidade, não se negoceia. Daí o mandarim se ter ido embora. Esta história fez me lembrar o filme Pontes de Madison County e aquele momento dentro do carro, em que Francesca agarra no manípulo da porta e pensa se vai ter com Robert, o que significava uma rotura definitiva com o seu marido, ou ficava. São segundos de uma tensão fascinante, em que todas as emoções estão concentradas, segundos para a decisão mais importante da sua vida: ficar com o marido e que a ama e ela também, ou ir com o amor da sua vida. Aqui ninguém exigiu nada de ninguém, daí existir o amor, a decisão é unicamente individual. Sim, o amor é sempre isso, ou tudo ou nada, mas também a luz da paz e do carinho que partilhamos sem nada exigir em troca.

3 comentários:

  1. Também concordo com essa conclusão, e por acaso foi sempre essa a ideia que me acompanhou durante os anos que a tive na cabeça, mas não sei explicar porquê, veio-me esta nova visão da história, hoje de manhã, por isso a escrevi. Não há dúvida que o mistério é muito importante na vida, assim como o prazer da descoberta, do outro, de nós próprios.

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  2. Também acho que a espera pode ser, em muitos casos, a melhor fase do amor. Aquela em que idealizamos e desejamos um mundo perfeito na relação a dois.No qual não há espaço para obstáculos, nem rotinas,nem medos,nem terceiros, só amor perfeito.
    Quanto à primeira opinião que deste acerca da história do mandarim - a da "prova", e à associação com as Pontes de Madison County, também é certa quando dizes que existe amor porque houve uma decisão individual. Mas, há sempre a outra face da moeda - "This kind of certain comes but once in a lifetime"...

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  3. Não concordo com essa ideia da espera ser o melhor do amor. Para uma idealização do amor será perfeita, mas o amor é algo que mobiliza todo o teu corpo e espírito com uma força que está para além de qualquer controlo racional, logo também ligado à tal idealização. O amor está sempre a abrir, a crescer, como uma flor, se tiver essa luz, não se restringe a um espaço circunscrito, mesmo alargado e ideal. A ideia de amor perfeito é à partida completamente errada, porque isso pressupõe algo que se pretende atingir e depois acaba. Para mim o amor é um sentimento infinito. Com o tempo ganhamos é novos ângulos de visão, novas maneiras de sentir. O amor renova-se e expande-se, logo para mim a perfeição e o ideal reduzem, isso sim, a capacidade de nos transcendermos. O amor é qualquer coisa de fresco e sempre encantatório, e revela-se surpreendente.

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