terça-feira, 21 de abril de 2009

Esta coisa da escrita tem estas coisas, e eis-me a transformar isto tudo em poemas contínuos, e já existem muitos lugares na net onde pura e simplesmente se citam poetas e poemas. Interessam-me certo tipo de poemas, certo tipo de poetas, gosto das perguntas que eles fazem com os versos, gosto dos mistérios que descobrem na natureza, gosto como falam com as flores, com os animais, com as nuvens, gosto quando despertam os nossos sentidos, tudo tem uma beleza etérea e indefinida, gosto como eles constroem o humano com estrelas, água, perda, extâse, luz, desejo. O coração de alguns poetas tem um batimento muito musical e encantatório. Uma poeta que descobri recentemente, ontem, perfeitamente sublime e com uma graça raras. A juntar a Milosz, mais um polaco, a senhora Wislawa Szymbroska!

Possibilidades

Prefiro cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos nas margens do Warta.
Prefiro Dickens a Dostoievski.
Prefiro-me gostando de homens
em vez de estar amando a humanidade.
Prefiro ter uma agulha preparada com linha.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não afirmar
que a razão é culpada de tudo.
Prefiro as excepções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar com os médicos sobre outra coisa.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não os escrever.
No amor prefiro os aniversários não redondos
para serem comemorados cada dia.
Prefiro os moralistas,
que não prometem nada.
Prefiro a bondade esperta à bondade ingénua demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos países conquistadores.
Prefiro ter objecções.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de fadas de Grimm às manchetes de jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães com o rabo não cortado.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que aqui não disse,
a outras tantas não mencionadas aqui.
Prefiro os zeros à solta
a tê-los numa fila junto ao algarismo.
Prefiro o tempo do insecto ao tempo das estrelas.
Prefiro isolar.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro levar em consideração até a possibilidade
do ser ter a sua razão.

Tradução: Elżbieta Milewska e Sérgio das Neves
em Alguns gostam de poesia- Antologia- Czeslaw Milosz e Wislawa Szymbroska, Cavalo de Ferro, 2004

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