quarta-feira, 29 de abril de 2009

. O olhar. Olhamos sempre, seja o que for. Os olhos. São muito importantes os olhos. Quando conheço uma pessoa a primeira coisa que tento olhar, são os olhos. Os olhos revelam o que somos, como nos sentimos. Existem pessoas que nos deixam entrar dentro delas, não resistimos ao magnetismo e luz interior do seu olhar. Com os olhos damos o primeiro beijo, e aí já vemos se, os lábios serão anémonas a saber a polén, ou ostras que se fecham ao toque. Descobrimos que no amor, tudo se filma e regista. Existem pessoas que vivem muito através do olhar, como pintores, designers, arquitectos, isso é real nos seus olhos, sempre mais atentos, mais penetrantes. Tocarmos no outro só através do olhar. Sentir o seu corpo, como um astronauta sente a terra à distância. Permanecer na sua órbita, atraidos pela sua força gravítica. Quando estamos enfeitiçados e apaixonados, eis-nos de olhos fechados, com a vista virada para para o céu que há em nós, e a viver num mundo encantado. Quando dormimos, continuamos a olhar, sonhamos com o olhar de sermos nós, num mundo onde ninguém nos pode ver, e em que a realidade é também, fantasma dos nossos medos, da nossa fantasia, da nossa alegria. Sonhar será organizar o real que não vemos com os olhos e transformá-lo em imagens. Morrer será perder a capacidade de sonhar, a capacidade de ver, não a vida. O mundo é infinito, porque não podemos parar de olhar. É isso também que nos faz ir em frente, o pulsar do olhar, do desconhecido. O olhar guarda o sentir, e é através desse olhar que recordamos os lugares, os outros e aquela intermitência do que somos e deixamos de ser a cada momento, na nossa existência.

3 comentários:

  1. João Pedro
    Lindo texto, sobre os sentires do olhar.
    O olhar consegue, como dizes, dar a conhecer o que vai dentro de cada um de nós.
    Também o que me interessa logo em alguém é o seu olhar.
    Dás a dimensão interna do amor e entras pelo sono-sonho. Sonhar é organizar a realidade como tão bem o dizes.
    Acrescentava algo, antes do morrer e ela, é a perda da possibilidade de sonhar, há o envelhecer, que de certo modo é o medir a esperança de vida, que para alguns, é a tristeza de não se poder "realizar" já, tanto agir e sonha-se menos, por receio inconsciente da morte.
    Parabéns por este lindo texto

    Lena Barroso

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  2. Obrigado pelo teu comentário, e ainda bem que já conseguiste entrar aqui. A tua última frase deixa-me a pensar...É uma grande alegria para mim que vivas, e sonhes, e te apaixones. O amor é tão importante que ele nos acompanhe sempre!
    Beijos de Amor para a minha segunda mãe!

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  3. Coincidências..?...Se as houver...Mas , aqui vim parar a um texto sobre o olhar, que a Lena também já comentou. É bonita e profunda esta forma de definir e encarar o olhar. Identica à minha a que de uma forma rapida e simplista defino habitualmente, como sendo os olhos o espelho da alma, por ali se entra, por eles se descobre quem está na nossa frente, se mergulha nas profundezas de comportamentos e se voa ao mais elevado do espirito. Também tenho um "olhar" daqueles que está sempre atento e observador, o dos artistas e pintores, coisa que só sou em conceito naife e cultural, não obstante ser mulher de numeros tecnocrata...
    Muito bonito e interessante este texto.

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