quarta-feira, 17 de março de 2010


Funchal, zonas altas, 16 de Março 2010
Ainda estou impressionado. Não se trata somente da miséria exterior, de pessoas a viverem em condições precárias. O que mais me inquieta é a indiferença que rodeia todo este estado de coisas, a nossa cumplicidade, o nosso comodismo. Todos nós nos contentamos com a miséria nas nossas vidas, desde que a consigamos esconder! Casamos com alguém que não amamos, aplaudimos artistas medíocres, cumprimos ordens disparatadas, e por aí adiante. Desde que a miséria não nos incomode e consigamos fazer a nossa vidinha, está tudo bem. Depois ela aparece com uma enxurrada, a doença, o silêncio...O consumismo veio mascarar as frustrações e transformá-las em felicidade. O progresso é tornado visível através de tuneis, auto-estradas e centros comerciais. Mas a miséria continua lá, e o mais grave, é ela estar dentro de cada um de nós, nas suas mais variadas formas, e muitas delas aparentemente belas e ricas. "Felizes os pobres de espírito!"ou "pobres os felizes de espírito"? Tal a tamanha absurda disfunção da sociedade em que vivemos. O mais angustiante é do sermos todos cúmplices, participarmos activamente na construção e preservação de uma sociedade assente na hipocrisia, na mentira, sem alma, sem luz. Vivemos todos alienados, e convencidos que somos ricos em espírito, em cultura, em amor, e no fundo transportamos connosco uma quantidade imensa de lixo, de medo e de solidão. Como lutar contra esta pobreza, esta melancólica alegria?




1 comentário:

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.