segunda-feira, 8 de novembro de 2010

(…)O homem da época “pré-musical” possuía um órgão interno para vivenciar a música. Ele não ouvia a música, os sons, através do ouvido: percebia-os de modo inaudível. Essa música espiritual do Universo harmonizava o corpo físico terrestre, criando nele também o órgão que então poderia ouvir o som em seu reflexo terrestre: o ouvido. Percebendo, por intermédio do ouvido, o reflexo terrestre da música, realizamos o processo na ordem inversa, isto é, o da renovada ligação com o Cosmo permeado de música. A música possibilita captar as forças criadoras supra-sensíveis da alma, que se encontram na iminência de serem despertas, e introduzi-las no mundo.
Tal como entre o pensar e o querer, situa-se o sentir, entre melodia e ritmo situa-se a harmonia. Também no sistema rítmico do corpo físico, no inspirar e exalar da respiração e no batimento cardíaco, actua o ritmo. Esse ritmo que se manifesta no organismo físico é portador do sentimento. No fluir para o interior e para o exterior, no encontro entre estes dois âmbitos surge o sentimento. Captada por percepção externa, física, a música, fluindo para dentro do ser humano, encontra-se com o ser anímico-espiritual do homem e suscita a vivência. Não são os tons que constituem o elemento musical, e sim o que, por seu intermédio, é motivado na alma. De acordo com isso, os ritmos dinâmicos do sistema rítmico corporal são apenas uma contraposição para a vivência musical. O corpo astral tem sua expressão física no homem aéreo, isto é, no ritmo da respiração, sendo vivenciado como algo musical pela cognição supra-sensível da inspiração. O processo respiratório torna-se interiormente audível na inspiração. Nele reina o corpo astral afinado musicalmente.
Assim como o cérebro não gera os pensamentos, mas constitui a base material para o pensar, Também o sentimento, no sistema rítmico, necessita do apoio físico.
Na vivência musical genuína tocamos o mundo espiritual, sem, contudo, vê-lo ainda. E mediante essa vivência, o mundo humano dos sentimentos, principalmente no que concerne ao lado moral, é aprofundado. “O sentir é, ele próprio, o resultado de uma harmonização constantemente renovada na parte mediana do homem. Se pudéssemos alçar ao reino da inspiração o homem como ser anímico pensante, emotivo e volitivo, tudo o que é material ficaria para trás; mas o homem principiaria a soar como obra de arte melódico-harmônico-rítmica da música cósmica que perpassou nosso eu. Esta é a música cósmica que ficou perdida para nossa consciência e que o homem desde aquele momento, procura reencontrar no plano terrestre.”
(…)De certo modo, o ritmo se transmite por si; no caso da melodia, entretanto, é preciso ligar-se interiormente quando se deseja captá-la em seu conteúdo. E o conteúdo do elemento melódico que introduz sensatamente o ritmo no todo musical. Assim como o pensar é o princípio ordenador dentro do âmbito anímico, o elemento melódico é o princípio plasmador e ordenador dentro da música.
Em cada melodia reside um impulso dinâmico interno que podemos vivenciar em nossa alma. “Em cada elemento da música revelam-se movimentos interiores da alma humana plenos de conteúdo. Em todo aspecto melódico movem-se forças que também tecem fios no acto do pensar, mas que, antes do pensamento, permanecem estacionárias no movimento.”(E.Scwebsch, Bach und die Kunst der Fuge) Nesta vivência captamos a realidade supra-sensível espiritual no ponto em que esta ainda interfere em nós directamente. Tal vivência é despertada pela audição. Se continuássemos perseguindo na vivência esse movimento interno do movimento melódico, isto é, se acompanhássemos o inaudível, precisaríamos mergulhar no mundo espiritual.
Esses movimentos tonais, que em épocas passadas conduziam o eu em direcção ao ser humano e plasmavam os envoltórios físicos seguindo leis tonais, têm hoje a missão de novamente ligar o eu ao mundo espiritual e preparar o futuro. “Como músicos, aprendemos a captar o embrião supra-sensível de vida futura em tudo o que nos toca no íntimo. Assim a música se torna um órgão de vida futura”.
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Em Carl Albert Friedenreich, A educação musical na escola Waldorf, 1977, Editora Antroposófica.

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