segunda-feira, 10 de maio de 2010



Peter Zumthor, Capela de S.Bento, Sumvitg, Suiça

Ontem a vaguear por uma livraria, sem rumo, como gosto de fazer, vejo um livro de Peter Zumthor, capa azul escura, abro, contém textos, ideias de arquitectura, coisas assim para o poético e o para o olhar sensível e o sentido do olhar, sentido como sentir, tocar com a alma e o corpo, ser tocado, ser alvejado pela seta do arquitecto, cúpido do espaço íntimo e público.

Depois vejo "Atmosferas", este um livro todo feito para um arquitecto babar, capaz de me fascinar, de me fazer viajar por vários pensamentos e emoções. Bruscamente, sinto-me próximo da profissão de arquitecto, daquilo que sou na verdade e nunca o quis assumir, por estar à espera de um reconhecimento de outrem, invisível, improvável. O reconhecer tem de partir de mim, e parece que só agora me vejo obrigado a não ser indiferente ao que sou. Às vezes, parece que nunca queremos ser o que somos, por timidez, medo do fracasso, pelo caminho de não retorno a um estado que se quer permanente embrionário, de criação, sedução e de deslumbramento. Mas o arquitecto também cria o amor, na sua comunhão plena com o universo e a vida. A arquitectura, como diz Zumthor, também é sensual e carnal, é um corpo constituído por orgãos e funções. Atrae-me o germinar de uma obra, como se desenrola, que factores influênciam, naquele momento, a sua feitura, o que nos faz seguir por um caminho e não por outros. Como um enigma que se tem de descodificar. Não bastam as ideias, e muitas vezes elas são feitas de perguntas, que apalpam, cheiram, imaginam o espaço. Tentam respirar e ter uma pele, depois um pulsar e por fim um movimento, silencioso ou sonoro, de expiração e inspiração, do exterior para o interior, e do interior para o exterior.

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