sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Escrevi esta história quando um beijo me fez sonhar. O amor poderá ser assim?

Era uma vez dois amigos que gostavam muito de brincar juntos.
Um dia, a passear pelos campos,
resolveram trepar, à mais alta árvore da floresta.
Treparam, treparam,
queriam ver o que se via lá bem no alto.
Quando chegaram ao cimo,
olharam em volta.
Estavam admirados por conseguirem ver tantas coisas.
Outras aldeias pequenas existiam perto da sua,
Na realidade eram todas muito parecidas,
com casas baixas, em geral de pedra,
ou caiadas de branco e azul,
ruas estreitas,
cegonhas na torre da igreja,
laranjeiras na praça central.

Os dois amigos eram inseparáveis,
riam por tudo e por nada,
rebolavam na relva,
andavam de bicicleta,
faziam partidas.
Um dia, como todos os outros,
pararam de repente, um frente ao outro
e olharam-se durante muito tempo.
O tempo passava
e eles não queriam deixar de olhar um para o outro.
Até que a menina rodou o corpo,
e agarrando numa flôr,
a encostou à cara do menino e lhe disse:
- és muito delicado, gosto muito de ti.
O menino riu com os olhos e os dentes, e tocou-lhe na cara ao de leve;
nos seus olhos ela viu uma luz.
- Também gosto muito de ti.
Aquilo que estavam a sentir era uma espécie de bailado,
coreografado por alguém brincalhão, porque não sentiam o chão.

Fecharam os dois os olhos,
e quando os abriram estavam, novamente, na sua árvore.
os dois abraçados ao tronco, com as caras coladas e as mãos apertadas.
Acharam que lhes estava a suceder algo fora de comum:
As aldeias que antes viam, agora eram palácios feitos de ouro,
nas ruas passeavam cavalos alados,
uma música suave soava no ar,
as flôres eram enormes e lindas com côres e cheiros encantadores,
a igreja era agora um coração gigante e muito vermelho,
que as pessoas acariciavam.
Os lagos estavam cheios de cisnes brancos,
viam-se unicórnios,
homens e mulheres beijavam-se em cada esquina,
as crianças brincavam,
os animais saltavam de alegria,
até uma vaca deu algodão doce em vez de leite!

Os amigos acharam que estavam num sonho,
e a verdade é essa mesmo:
ao descobrirem o amor,
viram que esse sentimento transforma tudo à sua volta.
Sabes - disse o menino - nunca pensei que o amor fosse assim tão grande a sentir.
Eu sabia, disse a menina.
Um dia, já há algum tempo, estava eu a sonhar,
O quarto foi inundado por uma luz imensa.
Consegui abrir os olhos, e ver, que,
uma estrela tinha entrado pela janela.
Eu muito espantada, mas sem nenhum medo,
Ouvi a sua voz cintilante dizer:
- quando amares alguém de verdade,
vais saber de que são feitas as estrelas.
E com um toque muito leve no meu nariz, ela desapareceu.
Agora sei o que a estrela me queria dizer,
e sinto um brilho em mim imenso.

O menino tocou na sua face e nos seus cabelos e olhou-a nos olhos.
Os seus lábios aproximaram-se e tocaram-se.
Os seus corpos ficaram do tamanho de um céu,
em que cada sarda e sinal eram agora múltiplas estrelas,
nas suas cabeças tudo se movimentava
à estonteante velocidade de uma luz,
e um sol interior despontou nas suas frontes,
e incidiu sobre cada minúscula partícula dos seus corpos,
agora quentes e luminosos como uma estrela.
Abriram novamente os olhos
e olharam um para o outro.
As suas caras estavam com uma luz brilhante e azulada
Uma aura enorme circundava os seus corpos
A da menina em tons rosa e verde claros,
A dele mais azulada e com tons laranja.

Ambos sorriram
Estavam encantados:
Em cada pequeno pedaço dos seus corpos, das suas roupas
havia um brilho de estrelas de várias cores.
Abraçaram-se
E nesse contacto sentiram algo a crescer na sua coluna vertebral:
Eram umas grandes asas que se abriam,
Com uma luz branca e prateada intensa.
Levitaram sem qualquer esforço,
De novo,
aproximaram as suas bocas,
e os seus lábios colaram-se,
Depois os braços, os pés, o peito,
Fundiram-se um no outro.
Não sabiam mais quem era um
e quem era o outro,

E de olhos fechados,
Percorreram lagos de flamingos,
Conheceram mares e ilhas secretas,
Cheiraram flores de perfumes raros,
Beberam da água mais pura,
Escreveram os seus nomes
Numa grande árvore de canela e jasmim,
Ouviram o murmúrio da lava,
mesmo no fundo de um vulcão
Tocaram na Lua com as pestanas e os ombros,
Estiveram dentro de uma medusa gigante,
Com a sua arquitectura de cristais e luzes infinita
Compreendiam as falas dos animais,
E respiravam carinhosamente
a alegria do amor.

Pensavam ser estrelas,
Porque todas as coisas tinham um brilho que antes não conheciam,
E eles próprios eram luz.
Caminharam até suas casas,
de mão dada,
sem sentirem os pés tocarem o chão.
Um céu límpido e macio envolvia-os,
uma brisa fresca acariciava as suas caras,
algo de intenso os unia:
era uma energia possante e mágica
que produziam os seus corações,
faiscantes,
reluzentes,
em expansão.

29.5.2009

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