terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A arte é um esquivar-se a agir, ou a viver. A arte é a expressão intelectual da emoção, distinta da vida, que é a expressão volitiva da emoção. O que não temos, ou não ousamos, ou não conseguimos, podemos possuí-lo em sonho, e é com esse sonho que fazemos arte. Outras vezes a emoção é a tal ponto forte que, embora reduzida a acção, a acção, a que se reduziu, não a satisfaz; com a emoção que sobra, que ficou inexpressa na vida, se forma a obra de arte. Assim, há dois tipos de artista: o que exprime o que não tem e o que exprime o que sobrou do que teve.

Livro do Desassossego. Vol.II. Fernando Pessoa. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1990. - 500.

4 comentários:

  1. Discordo.

    A Arte
    não
    se
    explica.

    Isso é
    negá-la

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  2. Sim, sim, com a emoção que sobra, é isso; como um depósito que se acumula no fundo e depois longe de todos se leva a um lume muito brando...

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  3. Penso que um artista vive uma vida paralela como pessoa. Daí Pessoa dizer que é com essa vida de sonho que fazemos arte. Mas quem não vive vidas paralelas, quem não sonha? Sim, mas o artista cria um mundo só seu, muitas vezes incomprensível, mesmo para si, feito essencialmente de emoções e sensações que não conseguem ser experimentadas e visíveis na vida de pessoa comum, que o artista também tem. Quem diz emoções, diz pensamentos, diz alma, diz cogito. A arte passa a ser a expressão intelectual da emoção porque o artista age, está desperto, mas ao mesmo tempo está a estancar emoções que no viver se fundem, quotidiano e sonho. Não agir, é deixar que todas as emoções tenham uma vida própria que não nossa, por não conseguirmos possuí-las na sua totalidade e intensidade. Dois tipos de artistas, diz Pessoa: um que sonha, e não vive, e outro que vive uma vida paralela entre o sonho e a realidade, mergulhando ora num ora em outro, procurando exprimir o que será uma emoção, o que será que sonha.

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  4. O artista busca: nessa tentativa exprime: emoções, pensamentos,...Logo a arte não é um esquivar-se a viver, é um viver reconhecidamente fragmentado. Pessoa queria a emoção absoluta. Como torná-la constante?

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