Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
em que as cousas têm toda a realidade que podem ter,
pergunto a mim próprio devagar
por que sequer atribuo eu
beleza às cousas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm côr e forma
e existência apenas.
E beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
perante as cousas,
perante as cousas que simplesmente existem.
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!
11-3-1914
Alberto Caeiro em “O Guardador de Rebanhos”
50 X 22
Há 4 dias
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