sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
em que as cousas têm toda a realidade que podem ter,
pergunto a mim próprio devagar
por que sequer atribuo eu
beleza às cousas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm côr e forma
e existência apenas.
E beleza é o nome de qualquer cousa que não existe
que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das cousas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
perante as cousas,
perante as cousas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!

11-3-1914
Alberto Caeiro em “O Guardador de Rebanhos”

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.