sábado, 18 de dezembro de 2010


(...)o que é no fundo a qualidade arquitectónica? É relativamente fácil de responder. A qualidade arquitectónica - para mim - não significa aparecer nos guias arquitectónicos ou na história da arquitectura ou ser publicado etc...Qualidade arquitectónica só pode significar que sou tocado por uma obra. Mas porque diabo me tocam estas obras? E como posso projectar tal coisa? Como posso projectar algo como o espaço desta fotografia - é um ícone pessoal, nunca vi este edifício, acho que já não existe, e, no entanto, adoro vê-lo. Como se podem projectar coisas assim, que têm uma presença tão bela e natural que me toca sempre de novo.
Uma demonstração para isto é a atmosfera. Todos nós a conhecemos: vemos uma pessoa e temos uma primeira impressão. E eu aprendi: não confies nisto, tens de dar uma oportunidade a esta pessoa. Agora estou um pouco mais velho e tenho de dizer que voltei para a primeira impressão. Em relação à arquitectura também é um pouco assim. Entro num edifício, vejo um espaço e transmite-se uma atmosfera e numa fracção de segundo sinto o que é.
A atmosfera comunica com a nossa percepção emocional, isto é, a percepção que funciona de forma institiva e que o ser humano possui para sobreviver. Há situações em que não podemos perder tempo a pensar se gostamos ou não de alguma coisa, se devemos ou não saltar e fugir. Existe algo em nós que comunica imediatamente connosco. Compreensão imediata, ligação emocional imediata, recusa imediata. É diferente daquele pensamento linear que também possuimos e que também amo, chegar de A a B racionalmente, obrigando-nos a pensar sobre tudo. (...)
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Peter Zumthor, Atmosferas, Gustavo Gili, 2006

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