sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Praia de Galapos, 1967
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Dia mundial da música. Dia pessoal da morte da musa. Musa mãe.
Estaria aqui ainda se a sua paixão descontrolada,
Não sei se pela vida, se pela sobrevivência dos sonhos,
Sonhos que permitissem o amor intenso sem dor, sem desilusão…

Se a sua solitária busca de serenidade,
não estivesse sempre colocada do outro lado do abismo.
Se a sua aparente extroversão não contivesse em si,
O charme cínico do abandono, da reclusão, da invisibilidade.

O coração comandava um querer desprovido de escuta, de luar,
De paisagens onde o corpo pudesse descansar de mais uma batalha,
Pela descoberta de si própria, no corpo, ou na alma de alguém.

Perdeu-se da vida,
Por querer demasiado,
algo desnecessário:

A vida com amor para si.
Como se estivéssemos sempre separados de tudo.
Como se pudéssemos viver protegidos do que nos dilacera por dentro:

O medo de não nos amarmos o suficiente.
De não aceitarmos a vida em toda a sua dimensão involuntária.
De não sermos completamente livres. De espelhos...
Do que o mundo e os outros pensam de nós.

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Como diz Krishnamurti:
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Concentrarmo-nos só em nós mesmos, ou observarmo-nos separadamente do mundo, leva-nos ao isolamento e a todas as formas de indiossincrasia, de neurose, de medos, etc. Mas se observarmos o mundo e acompanharmos o seu movimento, e nos deixarmos levar por esse movimento quando se dirige para o “interior”, então não há divisão entre nós e o mundo; não somos então um “indivíduo” oposto ao colectivo.
E deve existir este sentido de observação que simultaneamente, explora e observa, escuta e compreende. É neste sentido que estou a usar a palavra observar. O próprio acto de observar é um acto de exploração. Mas não podemos explorar se não somos livres. Portanto, para explorar, para observar, tem de haver lucidez; para explorar profundamente em nós mesmos, temos de o fazer sempre como se fosse pela primeira vez. Isto é, nessa exploração nunca “alcançamos um resultado”, nunca “subimos degraus” e nunca dizemos, “Agora sei!”. Não há degraus para subir. E se “subimos”, temos de descer imediatamente, para que a mente permaneça extremamente sensível para observar, para ver, para escutar.
E desse observar, desse escutar, desse ver, desse vigiar, nasce aquela extraordinária beleza da integridade. Não há outra virtude senão a que vem da compreensão de nós mesmos. Essa integridade é então cheia de vitalidade, vigorosa, activa – e não uma coisa morta, que se cultiva.”


2 comentários:

  1. Por volta das 20 horas quis ser egoísta, depois de um jantar regado com um bom vinho,cheguei a casa, e fui para a varanda concentrei-me no vento e no céu, o vento estava tropical ora forte, ora calmo, no céu reparei que estava bastante escuro com uma mistura de laranja que era o por do sol, e pensei para mim como vou contemplar este momento? tomei então várias decisões, a primeira recaiu em saborear um LBV Porto, segunda repartiu-se em acender um charuto suave e ouvir a primeira balada de Chopin, e depois foi um orgasmo de sentimentos, emoções...

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  2. Musa mãe

    Que nunca conseguiu aprender a serenidade consigo própria, acreditava-a sempre na junção com o amor.

    Não persistia um dia, sem o coração pleno de um amor tão puro e sincero, que nada punha em causa por ele. Não sabia distanciar-se dele para se compreender...
    Não acreditava na sua beleza, por isso exteriormente se metamorfoseava, para agradar, sem entender que era bela e amorosa, simplesmente.
    Tudo o que oferecia era inteiro, nada mediatizava.
    Não suportava a frustração, era mulher incauta, por isso, uma vez, em Itália, chegou a ser sequestrada. Sabias isso JP?
    Nunca soube qual era sua media medida, como pessoa.
    E quem de nós, não tem essa dificuldade, o saberá?!

    Talvez, aprendêssemos melhor, a lidar com nossas frustrações e a distancia necessária, entre nós, o tempo, os factos e o amor.

    O excerto do belo texto de Krishnamurti, que aqui colocaste, fala no real sentido da vida e do amor que não cega, sendo amor.

    Admiro muito, os meus dois semi-filhos, que tenho sempre no coração.

    A Musa mãe, esteve e está, sempre perto de mim, tivemos muito de comum, e o que consegui de mim foi porque, em períodos meus, muito difíceis, ela sempre me acompanhou.

    Ela permitiu que a vida a queimasse sempre e muito cedo, sem se proteger com filtros necessários.

    Beijinho de grande ternura, JP e R.

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