sexta-feira, 30 de outubro de 2009


Sendai Media Center, Japão, Arq. Toyo Ito


Funchal, 23 Outubro 2009

Para além de algum carácter monumental, utilitário, organizador, criador de espaços de fruição estética, para os olhos, para os sentidos, a arquitectura é ela própria um corpo que se pretende vivo e existencialista, mesmo do silêncio, mesmo da escuridão. Ela possui esqueleto e orgãos próprios, que se vão construindo.
Qual "bâtiment(o)" du coeur ou do céu.
Qual bátega de anjos e criação divina.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Rua do Carmo, Funchal 29 de Outubro 2009

Defronte da loja dos meus amigos António e Fernanda.

terça-feira, 27 de outubro de 2009




Funchal, Carne Azeda 24 de Outubro 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Curral das Freiras

Ontem foi vez de ir ao Curral apanhar umas castanhas.
Andava o dono atrás de uma ovelha fugida. Diz-me:
- O senhor que apanhe essa ovelha, que ela vai para aí!
Como se apanha uma ovelha? perguntei-me.
Ainda bem que ela foi por outro lado.
Anos e anos a viver na cidade dá nisto.
Natureza sim, mas esta quietinha e fotografável.
Será?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009


Os diamantes de orvalho
Em cada folha a brilhar,
O tom dorido do ceu,
Tudo parece chorar...

Perpassa no azul cinzento
Que flutua misterioso
Uma saudade tormento,
Um não sei quê de inditoso,
Uma incerteza opressora,
Qualquer coisa de invulgar.
Dês que a minha alma Vos chora,
Tudo parece chorar...

Vivi com Fernando de Medeiros entre o Natal de 1972 a algures em 1976/7. Foram anos de grandes mudanças, entre o Brasil, Faro e por fim Lisboa. Foi com ele que talvez herdei o gosto da leitura (sublinho os livros ainda da maneira que ele o fazia, na lateral e conforme a importância, além de comentários vários). Como antiquário, a sua casa estava cheia de misteriosos objectos. Um cheiro a cêra durante o dia, cêra do restauro de quadros essencialmente do século XVIII e religiosos. Nunca lhe agradeci pessoalmente o me ter despertado para um mundo que ainda me encanta e se entranhou. Obrigado Fernando.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Gosto mesmo desta menina do not disturb !

No campo do design o Eduardo e a Caterina também fazem das suas.









Desenhos feitos nas casas por onde morou. Eduardo Benamor Duarte
Ainda a recuperar desta imensa revelação...
Parabéns!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Leonard Cohen em uma entrevista com Jian Ghomeshi
The Guardian, Friday 10 July 2009
http://www.guardian.co.uk/music/2009/jul/10/ghomeshi-interviews-leonard-cohen

Have the women in your life been a source of your strength or weakness?
LC: Good question. It's not a level playing ground for either of us, for either the man or the woman. This is the most challenging activity that humans get into, which is love. You know, where we have the sense that we can't live without love. That life has very little meaning without love. So we're invited into this arena which is a very dangerous arena, where the possibilities of humiliation and failure are ample. So there's no fixed lesson that one can learn, because the heart is always opening and closing, it's always softening and hardening. We're always experiencing joy or sadness. But there are lots of people who've closed down. And there are times in one's life when one has to close down just to regroup.

Are there times when you've lamented the power that women have had over you?
LC: I never looked at it that way. There's times when I've lamented, there's times when I've rejoiced, there's times when I've been deeply indifferent. You run through the whole gamut of experience. And most people have a woman in their heart, most men have a woman in their heart and most women have a man in their heart. There are people that don't. But most of us cherish some sort of dream of surrender. But these are dreams and sometimes they're defeated and sometimes they're manifested.

Do you think love is empowering?
LC: It's a ferocious activity, where you experience defeat and you experience acceptance and you experience exultation. And the affixed idea about it will definitely cause you a great deal of suffering. If you have the feeling that it's going to be an easy ride, you're going to be disappointed. If you have a feeling that it's going to be hell all the way, you may be surprised.

Do you regret not having a lifelong partner?
LC: Non, je ne regrette rien. I'm blessed with a certain amount of amnesia and I really don't remember what went down. I don't review my life that way.
A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu : voyelles,
Je dirai quelque jour vos naissances latentes :
A, noir corset velu des mouches éclatantes
Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,

Golfes d'ombre ; E, candeur des vapeurs et des tentes,
Lances des glaciers fiers, rois blancs, frissons d'ombelles ;
I, pourpres, sang craché, rire des lèvres belles
Dans la colère ou les ivresses pénitentes ;

U, cycles, vibrements divins des mers virides,
Paix des pâtis semés d'animaux, paix des rides
Que l'alchimie imprime aux grands fronts studieux ;

O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,
Silence traversés des Mondes et des Anges :
- O l'Oméga, rayon violet de Ses Yeux ! -

A. Rimbaud

Voici le poème le plus célèbre de Rimbaud qui a suscité de nombreuses interprétations sans qu'aucune soit réellement satisfaisante. Il en donnera l'autographe à E. Blemont, futur directeur de "la Renaissance littéraire et artistique" qui le laissera à la Maison de la Poésie. Il existe une copie faite par Verlaine, avec quelques variantes et le titre : Les voyelles (Bibliothèque Nationale, ancienne collection Barthou).Première publication dans Lutèce, 5 octobre 1883.
Ici, le poète joue avec les mots, les lettres, les couleurs et les sons (bombinent, rire, colère, vibrements, strideurs) en un tableau très coloré déjà précurseur des Illuminations. Les voyelles deviennent des objets avec lesquels on peut s'amuser et qui portent en elles leurs propres réalités, sens et couleurs (naissances latentes). Les couleurs ont une valeur symbolique. Pour le noir, la cruauté, la nuit (puanteur cruelle, golfes d'ombre) ; pour le blanc, la fierté, la pureté, la légèreté ; pour le rouge, le sang, les lèvres, la colère, les excès ; pour le vert, la sérenité et la paix ; pour le bleu, évocation religieuse des cieux (suprême clairon, anges). Et il passe au violet pour l'évocation des yeux de La Femme. Peut-être une allusion à la jeune personne qui l'aurait accompagné à Paris en février 1871, d'après ses amis.Un point de départ à l'idée du poème, un abécédaire qu'il a du avoir entre les mains, comme tout enfant, quand il apprenait à lire. A chaque lettre correspondait une couleur et un certain nombre de mots : A noire, pour Abeille, Araignée, Astre, Arc-en-Ciel. E était jaune pour Emir, Etendard, Esclave, Enclume. I rouge pour Indienne, Injure, Inquisition, Institut. O azur pour Oliphant,
Raptei este texto, que penso ser da Adília Lopes, do blogue montanha mágica, a quem agradeço.

«HAVERÁ UMA BELEZA QUE NOS SALVE?»

Não, não há uma beleza que nos salve. Só a bondade nos salva. E a bondade manifesta-se, por vezes, no meio da maior fealdade. Explico-me. Uma pessoa capaz de actos de bondade, uma pessoa com bom coração, pode ter uma cara que é considerada feia, pode vestir-se de uma maneira que é considerada pirosa, pode ter tido notas medíocres, pode ser um artista medíocre. Quando visitamos um museu com obras belíssimas, como o Louvre ou o Prado, podemo-nos esquecer de que as pessoas, os visitantes e os funcionários que estão lá connosco, são obras mais belas do que as mais belas obras expostas que andamos a ver. Um artista torturado pela beleza que consegue, ou que não consegue, dar ao que pinta e que se autodestrói está equivocado. Seria preferível deixar de pintar ou pintar obras medíocres. Como dizia o meu avô materno, que era médico, «mais vale burro vivo do que sábio morto». Se a busca da beleza nos impede de viver, então há é uma beleza que nos perde. E há.
Penso que não nos devemos enganar sobre a beleza. Se a nossa obra artística, ou outra, não implica a renúncia às coisas inúteis e a partilha, então é bastante inútil. E as coisas inúteis, para uma poetisa, são o desejo de escrever obras perfeitas e o de ser reconhecida pelos seus pares. Roubei à Irmã Emmanuelle a expressão «renúncia às coisas inúteis e partilha» («renonce aux choses inutiles et partage», in Famille chrétienne,Numéro hors série, été 2004, p. 6).
Se não há partilha, o artista é quase tão aberrante como um padre que celebrasse a missa só para si. Os artistas são, às vezes, muito egoístas. É verdade que as suas obras, apesar disso, podem comunicar --mas será involuntariamente? -- bons sentimentos. A arte está cheia de ódio, de maus sentimentos. Parece que estou a dizer mal da arte e não queria fazer isso.No Natal, uma amiga mandou-me um cartão de boas festas da Unicef com um Anjo da Anunciação de Fra Angelico. Tenho-o em exposição no meu quarto e, quando quero rezar, olho para ele. Mas não sou contemporânea de Fra Angelico. Não posso tomar café e tagarelar com ele nos cafés como posso fazer com a amiga que me enviou o anjo dele pelo Correio. Por isso o Anjo da Anunciação de Fra Angelico, que é tão bonito, pode também ser doloroso. Fra Angelico já morreu. E não é a beleza do anjo de Fra Angelico que me garante que Fra Angelico ressuscitará.
Um poema de Rimbaud está cheio de violência. Há muita beleza na expressão dessa violência. E isto é terrível. Preferia que Rimbaud não estivesse ferido a ponto de escrever daquela maneira? Preferia. Mas não posso dizer isto assim.
A arte é feita para construir a paz. Não é um esgrimir no vazio. Não pode ser. Olho para o Anjo da Anunciação de Fra Angelico. Parece-me belíssimo. É vermelho e dourado. É verde e azul. Mas, ao escrever assim, parece-me que estou a evocar o poema de Rimbaud intitulado «Voyelles». A arte é um modo de lidar com a ausência. E por isso é tão preciosa e tão perigosa. Nunca é a alegria da presença."
Belas fotos e um texto que se viaja:

http://www.snpcultura.org/vol_mar_musa.html




Tenho estado tão alienado de qualquer realidade exterior à minha, de uma rotina algo estonteante e feita de pequenas coisas inúteis mas necessárias, e eis-me sem tempo para as minhas coisas da escrita e da leitura e da largura (de horizontes). Com isto esqueci-me de referir a exposição da minha amiga Helena Sousa, que sempre me faz sentir bem ao seu lado, e mulher solitária, por pintora, por amor de pintar o mundo de côres de puzzles, de respirar em "gatafunhos" com batimento cardíaco pronunciado de alma. Que vivam Valdez, Kiko, Coque e Tu.

O texto da exposição:

Retalhos
Recantos
Pedaços de memórias
Rasgões de incertezas
do meu ser
Descubro e abafo
Desvendo e
imploro aos pincéis
(cúmplices e companheiros)
que se calem…
Fecho os olhos
Vazios
E vejo
como num espelho
Repouso a cabeça
Alheia
Nesta almofada
Efémera
E espero
Que me cubra a maré cheia
Desta praia de saudades.

Dalila Souto

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Funchal, Setembro 2009