terça-feira, 21 de julho de 2009

Há uma coisa que me intriga nas separações: a necessidade que o abandonado tem de que aconteça ao outro o mesmo que lhe aconteceu a si. No mínimo, ser infeliz, de preferência, ser depois abandonado também. Porque em princípio, é muito improvável que o outro se mude para melhor. Se alguém muda, é porque não estava bem. As pessoas não gostam de pensar nas coisas que não correm bem numa relação. Pôr-se no lugar do outro é um elemento essencial para que possamos dizer: eu amo esta pessoa, e exista na realidade uma relação a dois. Se não basta um dizer: eu amo, e o caso está resolvido, esse pensa exclusivamente no seu bem estar, no prazenteiro luxo do amor que possui pelo outro. O amor que se tem pelo outro torna-se um tesouro que oferecemos, se ele fôr digno dele. Amamos e deixamos de amar conforme as circunstâncias nos são favoráveis a nós ou não. Se o amor é esta troca, então realmente quando somos abandonados temos que ser ressarcidos dos prejuízos de um investimento que afinal ficou sem retorno. Aí o outro vai ter de pagar, em karma, em pecado, em culpa, etc. Será possível desejar algo que não a felicidade do outro, quando amamos verdadeiramente? A vida sem aquele que amamos torna-se vazia e sem sentido, é verdade, mas sem sentido será transformar o amor em desilusão e amargura. O amor não é de ninguém, ninguém é de ninguém. O amor é algo que está em nós, inesgotável, luminoso. Não é algo que damos ou que recebemos, é um respirar. Será que vamos conseguir agarrar o nosso respirar, para que ele não fuja? O problema das pessoas é que precisam de outros para sentirem que amam e são amadas, e esquecem-se de sentrir o amor que está dentro delas como uma dádiva, uma alegria, algo de maravilhoso. As pessoas amam outros no fundo, para pensarem unicamente em si próprias, no prazer e alegria que isso lhes dá. Parece contraditório, mas existe o perigo de esquecermos quem é o outro que amamos, porque nós estamos bem. Será que alguma vez saberemos o quanto e qual a qualidade do amor que o outro nos tem? A felicidade é algo que se constrói, não é um objectivo que se possa atingir, e depois...adormecer, deixá-la quietinha como uma fotografia, imóvel como um umbigo. O amor é electricidade, tudo menos estática, mas entusiástica. Luz e alegria do presente. Não do passado, nem do futuro.

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